segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Uma esperança interrompida!


Uma esperança interrompida!


Desde o assassinato do diretor da escola Centro de Ensino Lago Oeste, o educador Carlos Mota, no ano passado, todos nós ativistas dos direitos humanos, sejam educadores, estudantes, sindicalistas, advogados, gestores na área de segurança pública, entre tantos outros, acompanhamos reportagens pela imprensa falada e escrita sobre mais esse ato de violência urbana no Distrito Federal.

A minha pergunta é: O diretor Carlos Mota foi assassinado porque combatia o tráfico de drogas na escola ou porque era um diretor de escola pública do século XXI?

Lembro-me de ter lido uma matéria no Jornal Correio Braziliense, logo após o assassinato, na qual alguns estudantes, colegas professores e funcionários se referiam ao diretor Carlos Mota como pessoa legal, gentil, que dava bom dia para todos na escola, cuidava do ambiente, preocupava-se com os estudantes, os professores, os funcionários e etc.

Ou seja, ninguém fez referência a ele correndo atrás de traficantes, o que é correto. Porque esta é atribuição exclusiva das polícias, constitucionalmente e de fato. Elas são treinadas para isso, encontrar os fora da lei e entrega-los à justiça para serem julgados e, se for o caso, condena-los.

O diretor Carlos Mota foi eleito pela comunidade escolar para ser O DIRETOR, o Gestor de uma escola pública. Que privilégio!

Sua missão foi bruscamente interrompida por três jovens, um deles ex aluno da escola Centro de Ensino Lago Oeste, a mando de um traficante nas redondezas. Outra pergunta me vem à cabeça. Será que as polícias não sabiam que por ali rondava o perigo do tráfico de drogas?

O diretor Carlos Mota que, tendo conhecimento do perigo que aquela comunidade corria e corre (acho eu) com o tráfico na porta da escola da qual cuidava com carinho e respeito à nobre função que exercia não conhecia seus limites? Acho que não.

Inocentemente, confundiu os papeis, pagou caro, com a própria vida, pela nossa incapacidade – Estado, Trabalhadores de Segurança Pública e Sociedade Civil de exercitar, de forma estratégica, a cooperação para prevenir a criminalidade e construir comunidades mais pacíficas.

A Iª conferência Nacional de Segurança Pública abre o portal para o debate entre estes três setores.

Cada um com suas responsabilidades e limites. Em pé de igualdade, para podermos romper efetivamente o velho paradigma de que quem cuida da Segurança Pública são as polícias. Aos cidadãos, caberia apenas apoiar as atividades policiais. Aí pode estar a raiz do brutal assassinato do diretor Carlos Mota.

Se o exercício da cooperação, de forma estratégica, entre estes três atores fosse uma prática na prevenção da criminalidade, o tráfico não surgiria naquela comunidade e muito menos na escola, e não teria sido necessário mais um educador, e agora diretor de uma escola pública e humanista, pagar com a própria vida.

Somos todos responsáveis por mais essa perda. Os criminosos devem pagar pelo crime. E pagar caro, já que o sistema penitenciário é a barbárie.

Aos Gestores e trabalhadores de segurança pública fica mais uma lição, a de que é fundamental prevenir para não serem todos jogados na vala comum de que políciais e criminosos são a mesma coisa.

Para o cidadão fica o exemplo doloroso do diretor Carlos Mota de que é necessário exercitar nossa cidadania em todas as atividades que dizem respeito à melhoria da qualidade de vida na comunidade, da cultura, da educação, do meio ambiente, do lazer e a segurança pública com cidadania.

Deveríamos dedicar a etapa da Iª Conferência Nacional de Segurança no Distrito Federal a todos os educadores que perderam a vida pela educação para a paz.


Everardo de Aguiar Lopes Brasília 15 de fevereiro de 2009
Movimento Amigos da Paz
Rede Desarma Brasil - DF

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O QUE SEDUZ É A MOBILIZAÇÃO.


Às vezes, nos perguntamos por que determinadas frases mobilizam sobremaneira nossos corações? Porque algumas pequenas e simples atitudes ficam gravadas para sempre em nossas mentes? Porque ‘o simples’ encanta? Porque não sei fazer ‘o simples’?

Mobilizar as pessoas para participar de um determinado evento é uma arte. Vivemos uma era na qual existem milhões de oportunidades para as pessoas escolherem o que mais toca seu coração.

Por incrível que pareça, o que mobiliza é justamente o OUVIR.

Como uma mãe quando ouve uma criança em seu útero. E depois que a criança nasce, a mãe faz o natural, ‘o simples’, coloca-a no colo. Mas o que fica gravado para sempre em sua mente é aquele chute. O que encanta os adultos são os movimentos descoordenados, que, para aquela criança, são precisos e aconchegantes.

Acreditemos, pois, que a mobilização para a primeira a I Conferência de Segurança Pública é a arte que seduz os desafios de transformar ‘essa criança’ em um adulto forte e sedutor. Confiamos que esse é um movimento acolhedor, que envolve um debate apaixonante, porque ainda está cristalizado na histórica certeza de que a segurança pública é uma questão para as polícias.

A mobilização assume, então, o papel EDUCATIVO. Transcende o mero papel de juntar as partes, para desenvolver um processo de confiança mútua entre as PESSOAS.

Toda pessoa, ao tomar consciência de que suas atitudes positivas irão se refletir em todas as dimensões da vida, passa a compreender e a exercitar a cooperação. A cooperação, por sua vez, mobiliza sentimentos menos egoístas, superando a fragmentação.

Essa relação sistêmica causada pela mobilização, é construída através dos exemplos do mobilizador. Como educador e mediador de conflitos, ele é capaz de equilibrar interesses, sem negar os conflitos existentes na base da sociedade.

Como mobilizadores, devemos fazer, como foco central de nossa responsabilidade, com que o processo de construção da I Conferência desague nas conferências Livres, Municipais, Estaduais e Nacional. Devemos, igualmente, privilegiar o rompimento do ciclo vicioso de que temos que combater a violência em detrimento da construção de um caminho de paz pela paz.

O ouvir com o coração, do mobilizador para a I Conferência de Segurança Pública de uma determinada região do país é fundamental para que o longo caminho da diminuição da criminalidade, a ser construído neste processo, seja essencial no pós conferência.

O que ficará gravado nas mentes e nos corações de todas as pessoas que estão participando deste processo de MOBILIZAÇÃO EDUCATIVA será o que a experiência Pacificadora da Sociedade Civil, do Estado, e das organizações dos trabalhadores forem capazes de exercitar. Deste modo, estaremos dando um exemplo de que é possível construirmos um outro caminho para a segurança pública no Brasil. Mudando nossa cultura de violência e de competição entre as representações, estimulando as pessoas, em suas casas e em suas comunidades, à prática de fazer O SIMPLES, O NATURAL, O DAR O COLO à cidadania ativa.

O mobilizador para a I Conferência de Segurança Pública pode e deve cumprir esse papel fundamental, exercitando o caminho pacificador da retidão, da missão honrosa de poder sentir e ser tocado pelo desejo de paz que cada um de nós acredita ser possível alcançar.


Brasília, 21 de janeiro de 2009

Everardo de Aguiar Lopes
Movimento Amigos da PazRede Desarma Brasil

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

OUVIR PARA COMPREENDER


Não precisa eu lembrar a nenhuma liderança política partidária, militar, religiosa, sindical ou todos aqueles (as) que fazem opinião na sociedade que o lema OUVIR PARA COMPREEDER é um dos cinco objetivos definidos pela UNESCO para desenvolvermos na conhecida década da cultura da paz.

Peço um pouco de atenção de vocês para falar o que nós, do grêmio, queremos dizer com “EDUCAR, AMAR E TRANSFORMAR. ISSO É POSSÍVEL!” Vamos compartilhar nossos propósitos e enfrentar, juntos, os desafios que nos forem impostos, o que acenderá uma chama em nossos corações jovens e fortes o suficientes para amar a todos. Nesses quatro meses aprendemos muita coisa. Criamos um elo de confiança muito forte entre nós. Aprendemos que é melhor respeitar as opiniões dos outros do que derrotá-las. Aprendemos que, sem cada um de nós essa escola não é nada... É apenas mais um prédio para ser pichado, um muro a ser pulado para roubarem nossas alegrias e esperanças, e por alguns, até odiado. Aprendemos que tudo passa: professores, funcionários, autoridades, representantes da sociedade civil, estudantes; todos passamos...O que fica são nossos exemplos, nossas atitudes. Principalmente, as que transformam coisas ruins em coisas boas.

Aprendemos que tudo o que está além desse muro é o que mais interessa. A escola seria bem melhor se fosse um ponto de encontro para as pessoas trocarem, lançarem e conhecerem idéias, experiências, e, acima de tudo atitudes. Aprendemos que, aqui dentro, aprendemos muito pouco, mas que, se esse pouco for AMAR, ele será o suficiente para transformar essa escola no jardim da nossa casa, na oportunidade conquistada. Se não, corremos o risco de nadar, nadar e morrer na beira.

Aprendemos que tudo isso é possível se os projetos “ Jardim de Alah” Ler Para Quê” Comissão de Frente” Comissão dos aniversariantes” e Carona Amiga” saltarem os muros que oprimem os sonhos e se misturarem efetivamente com cada morador, tornando-se capazes de fortalecer o sentimento de PERTENCIMENTO a esta cidade, a este país e a este planeta. Aprendemos que a juventude vive o caos de seu íntimo, que oscila da alegria a dor. Uma parte sofre e pratica o dissabor do caos. Outra continua perplexa, assim como uma parte dos adultos. Mas, há os que acreditam que o rio não separa; une as margens, os desejos os prazeres e os sonhos. Esta é a nossa parte, a maioria.

Se ouvirmos para compreendemos a juventude, vamos prevenir e muito os altos índices de violência em volta das escolas no Distrito Federal.

Parte do discurso de posse de uma jovem a coordenação de um grêmio. Retirado do livro Saber Mexer e Acreditar em Gente.Um diretor de escola pública do século XX.

Everardo de Aguiar Lopes

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

CIDADANIA LOCAL, UMA SEMENTE PARA OS TERRITÓRIOS DE PAZ!

A primeira década do século XXI vem nos confirmando que quem muda efetivamente são as pessoas!

É com esta experiência que, silenciosamente, o exercício da cidadania proporciona, na ação individual, uma dimensão capaz de TRANSFORMAR BOAS IDÉIAS, EM SEMENTES PARA A SUSTENTABILIDADE DAS LOCALIDADES DENOMINADAS DE TERRITÓRIOS DE PAZ.

A violência priva a cidadania e, conseqüentemente, a liberdade coletiva, mas estimula a liberdade interior e assim, as pessoas, nas comunidades, vão descobrindo formas alternativas para atarem ou reatarem seus laços de amizades, sociais, culturais, profissionais e etc.

Em Brasília – DF, assisti dois eventos e, como disse B. Russell, os eventos não se repetem. Um, em uma localidade onde os índices de violência são muito mais expostos aos olhos das autoridades, das mídias e, claro, da população em geral. Outro, em local onde os índices de violência não são tão visíveis para as autoridades, a mídia e para a maioria da população.

Porque então as pessoas dessas duas localidades se esforçam para atarem ou reatarem aqueles laços?

Na primeira localidade, vi uma forte mão do Estado e pouco ouvi da cidadania local. Na segunda, onde os índices estão menos expostos, vi uma presença tímida do Estado e ouvi muito da cidadania local.

Naquela, onde os índices de violência estão mais expostos, eu ouvi aplausos, perguntas tais como: quando vai começar o projeto? Como eu posso participar? Quem vai fazer isso? É o governo?

Na segunda localidade, eu ouvi: qual é o seu bloco? É o K, um senhor responde e a senhora que estava ao lado, entrou na conversa e disse: eu moro J. Agora já eram três conversando. Moravam tão perto um do outro, mas não sabiam o bloco, um do outro.

Na primeira localidade, percebi que todos, ou quase todos, conversavam uns com os outros, brincavam e riam como quem diz: ganhamos alguma coisa de alguém!

Na segunda, percebi que as pessoas foram chegando aos poucos, conversando devagar, trocando impressões, se apresentando uns aos outros, abraçando quem não viam há tempos e perguntando quem é João Paulo? Quem é Ricardo? Como eu posso colaborar? Quero saber o que vai acontecer aqui, disse uma jovem.

Duas sementes, uma plantada fundamentalmente pelo Estado, outra, por pessoas da própria comunidade.

Mesmo em espaços territoriais diferentes nos aspectos sociais, culturais, profissionais e econômicos, em sua essência, ambos os territórios precisam expor seus sentimentos de PERTENCIMENTO. Neste sentido, os dois territórios têm os mesmos obstáculos, gerando efeitos diferentes.

Sendo que, onde os índices de violência estão mais expostos, o efeito é o de não permitir que o Estado sufoque a cidadania local, partidarizando ações como a das Mulheres da Paz, dentre tantas outras.

Onde os índices de violência estão menos expostos é o de não permitir que o Estado omita-se de suas responsabilidades e manter o exercício saudável da cidadania local.

As duas sementes estão plantadas, agora é CUIDAR.

Ali, onde os índices estão mais expostos, as organizações da sociedade civil que desenvolverão junto com a população local o Projeto Territórios de Paz, em parceria com o Estado, terão uma missão honrosa: transformar uma idéia e um conjunto de ações EM UM DIREITO.

Ali onde os índices estão menos expostos, as pessoas que exercitaram sua cidadania como LIBERDADE, têm a honrosa missão de transformar o seu direito em sentimentos de PAZ.

Everardo de Aguiar Lopes

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008



A CIDADANIA LOCAL COMO EXERCÍCIO DA LIBERDADE INTERIOR.


Super Comunidade, assim os moradores da Super Quadra 306 Sul estão denominando seu território. Quem ouve a expressão SUPER COMUNIDADE pela primeira vez, e não percebe o entusiasmo daquelas pessoas, em especial do Prefeito Leonardo e do Vice-Prefeito João Paulo, não vai compreender a dimensão da semente da PAZ ATIVA plantada.

O mês é dezembro. O clima é de Natal. Especialmente, naquela manhã, São Pedro foi muito generoso, fazendo sua parte, não mandando chuva lá do céu.

A mesa farta, com frutas, iogurte natural, pães, sucos, café com leite, refrigerantes, bolos, biscoitos, unidos a boa musica e atrativos para crianças.

As pessoas vinham chegando devagar, dando um bom dia, um aperto de mão, perguntando: qual é o seu bloco? Há quanto tempo você mora aqui? Você faz o quê? Alguns organizando o local, outros cortando as frutas e decorando a mesa com flores, outros simplesmente observando, querendo entender porque dois jovens tomaram a frente dessa iniciativa, fazendo com que ele descesse de seu apartamento, em pleno domingo nublado, às 9:30 h da manhã para tomar café na rua, com pessoas com as quais ele tem pouco contato.

Imagine uma gaiola com um pássaro dentro, a porta escancarada. O pássaro de costas para a porta, bicando a tela para tentar fugir. Imaginou? Assim estavam eles. Agora, imagine uma gaiola com a porta escancarada. Dentro, dois pássaros cantando, entrando e saindo da gaiola, voando de uma árvore a outra, pousando em cima da gaiola. Imaginou? Assim estava a maioria.

Não faltaram os agradecimentos por não estar chovendo.

O sorriso de satisfação tomou conta daquele espaço urbano. As pessoas que se aproximavam apenas como curiosos, tentavam saber quem eram os dois jovens que estavam querendo mexer com a cabeça deles. Aqueles mesmos rostos, depois, mostravam uma expressão diferente. Eles sentiram que tinham sido mexidos. Agora, queriam ser acolhidos para ajudar a cuidar dessa semente.

As crianças da comunidade estrutural chegaram. Elas fazem parte do projeto VIVER. Mais surpresas e expectativas para alguns. Para os organizadores mais integração, mais redes, mais humanização.

Os comerciantes locais, que deram sua contribuição, chegavam e logo eram acolhidos. Os representantes dos poder público também foram bem recebidos e até comprometeram se a ajudar aquela, agora, Super Comunidade.

O imenso banner: Você já Abraçou sua Comunidade Hoje? Com sugestões de 8 jeitos de abraçar a comunidade, estava exposto para todos se conscientizarem do privilégio daquele momento de fartura, entrelaçamento, harmonia, reencontro, descoberta e alegria e principalmente de poder abraçar sua comunidade, pois muita gente não tem a mesma oportunidade. E é por isso que a simplicidade dessa ação ajudará na compreensão da necessidade de um mundo melhor. É só crer e fazer, para ver.

Aquela Super Comunidade tem equipamentos de serviços básicos, é urbanizada, tem jardins e é arborizada, tem segurança privada nos blocos, apresenta um comércio ativo em sua volta e os índices de violência, seja doméstica ou urbana, não estão tão expostos aos olhos dos governantes, da mídia ou da população em geral.

O capital humano é expressivo. Verdade que ainda se apresenta meio perdido, mas de coração aberto. Enfim, um ambiente que poderia ser decretado como território de Paz por aqueles jovens. O momento era favorável. Mas eles preferiram o caminho de religar os laços entre as pessoas, conectar UM A UM, em uma rede horizontal, espalhando o sentimento da responsabilidade de cuidar mutuamente, um do outro.

A semente da PAZ ATIVA foi plantada. Todo cuidado é pouco. Não partidarizar as ações em nenhum momento. Dar a mesma importância a todas as pessoas. Definir claramente as responsabilidades do Estado e da Sociedade. Assim, a idéia da SUPER COMUNIDADE vai se espalhando, pelos corações e mentes de cada morador que, com sua liberdade interior, irá exercitar a criatividade e assumir o compromisso de um mundo melhor e sustentável para todos os seres.

Everardo de Aguiar Lopes
Brasília 22 de dezembro de 2008

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O SILÊNCIO E SUAS CONSEQUENCIAS NA CULTURA DAS VIOLÊNCIAS NO PAÍS!


Estamos ainda meio sem compreender o que deu na cabeça daqueles jovens que, ao concluírem o curso de medicina, em Londrina PR, resolveram festejar tomando umas e outras e depois entraram em um Hospital Público gritando e até soltando um rojão.

Uns, poucos, mas bons para julgar, diriam: isso é coisa de Jovens. Não querem nada. Não têm o que fazer. Faltam com respeito à todo momento, e por aí vai.

Vou entrar nessa polêmica e dizer que isso não é coisa de Jovens, é sim, coisa daqueles Jovens.

E eles têm que ser responsabilizados por suas atitudes. Para que aquela atitude, sem nenhuma preocupação ética, não venha a ser diluída nas generalidades de que a Juventude é violenta, bagunceira e sem responsabilidade com o presente e o futuro do país.

Como a generalização de dizer que todos os parlamentares são corruptos. Não é verdade. Uma parte significativa é sim, corrupta. Não vamos esquecer a última pizza: a salvação do Dep. Federal Paulinho, da Força Sindical.

Aqueles jovens formados em uma profissão nobre, e que agora passam a fazer diagnósticos e prescreverem algumas receitas para as pessoas que dependem do SUS. Sistema esse que é um verdadeiro exemplo de dedicação dos profissionais de saúde, usuários e gestores públicos e que é tão necessário e caro à sociedade brasileira.

E uma parte significativa dos recursos públicos do SUS é para tratar das seqüelas das violências, sejam elas domésticas (daí a importância da lei Maria da Penha), de trânsito ou do crime organizado.

Porque então, muito das violências que nos chocam, como aquela dos Jovens que agrediram uma doméstica no Rio de Janeiro, ou a daqueles Jovens que atearam fogo no índio Galdino, ou a daqueles militares que entregaram os três Jovens para uma facção criminosa no Rio de Janeiro são praticadas por jovens? Será que essas atitudes são isoladas da nossa formação de um caldo de uma cultura das violências no país?

Não. O silêncio dos pais daqueles jovens médicos terá conseqüências nefastas nesse caldo de cultura. Assim como a atitude dos empresários que sonegam impostos, o agronegócio que desmata fazendo queimadas criminosas ou o professor que acha suficiente ir até a escola e passar o seu conteúdo para os alunos, como se isso fosse educar aqueles estudantes para uma vida com dignidade.

Nenhum pai ou mãe daqueles Jovens médicos teve a dignidade de ir até uma emissora de televisão, rádio, um jornal da cidade para pedir desculpas à população brasileira. Pedir para que seu filho ou filha não fosse diplomado(a) antes de prestar um período de trabalho voluntário naquele hospital, cuidando dos pacientes, com carinho e respeito à dor alheia. Não, preferiram a impunidade, o exemplo de que tudo pode, de que esses jovens são assim mesmo, brincalhões. São futuros médicos, de boa família, e que isso, daqui a uns dias, a população esquece e aí quem sabe, um(a) desses jovens não possa ser um deputado, governador ou empresário da saúde?

São esses pais que gritam contra a violência, em especial a violência entre jovens, ou a violência que é cometida por um Jovem que é capturado pelo crime organizado e que, de forma brutal, assalta a mão armada, comente latrocínio, etc. Aí esses pais dizem que o Estado tem que dar segurança à população. E exigem justiça.

Para aqueles jovens criminosos, a barbaridade do cárcere. Ao meu filho médico, o perdão, a compreensão, ou quem sabe, uma viagem, um carro novo ou a chave de um consultório.

Esse SILÊNCIO é a essência do tempero do caldo de cultura das violências que o país vem passando. E a IMPUNIDADE é, sem dúvida, o principal ingrediente.

Cobramos, e devemos cobrar, do Estado, suas responsabilidades com a segurança pública. Mas, não podemos nos esquecer de nossas atitudes individuais, que são a essência para uma cultura de PAZ PELA PAZ ou da VIOLÊNCIA PELO SILÊNCIO.

Everardo de Aguiar Lopes
http://www.movimentoamigosdapaz.blogspot.com/Rede Desarma Brasil – DF,

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A PAZ SE CONSTROI PELA PAZ!


Mais um portal se abre para que a segurança pública no Brasil abandone de vez o lema:
QUERES A PAZ, PREPARA-TE PARA A GUERRA.

A I Conferência Nacional de Segurança Pública deve ser este PORTAL.

Aconteceu em Brasília – DF, nos dias 8 e 9 de dezembro, a segunda reunião do Fórum Nacional de Segurança Pública e a quarta da Comissão Organizadora Nacional da I Conferência.

Durante dois dias, comandantes de Polícias Militares, Civis, Bombeiros, Secretários de Segurança, Representantes de Trabalhadores de Segurança Pública, Ouvidores, Organizações da Sociedade Civil, Representantes de Igreja, Maçonaria, ativistas de movimentos pela Paz e de Direitos Humanos e conselhos de segurança comunitária, etc. participaram da solenidade de assinatura do decreto que convoca oficialmente a I Conferência.

Exercitaram e aprovaram a metodologia que será utilizada nas pré-conferências municipais, estaduais e livres. E debateram os eixos que serão norteadores para os debates, a partir de textos base apresentados pela comissão executiva da I conferência nacional, frutos de colaborações de organizações da sociedade civil e de pessoas dedicadas ao tema, organizações de gestores e trabalhadores em segurança pública.

Conhecemos os mobilizadores do Ministério da Justiça que, com sua paixão e conhecimento, vão viajar por estados e municípios, sensibilizando gestores públicos, trabalhadores de segurança pública e, em especial, a cidadã e o cidadão para assumirem outra forma de compreender e praticar a segurança pública como DIREITO FUNDAMENTAL.

Não será uma missão fácil, porque o tema não é fácil. Desconstruir uma cultura de violência exige muito mais do que sabermos fazer um diagnostico.

É preciso misturar os saberes. Transformar as práticas cotidianas localizadas de fazer o bem em uma cultura de PAZ nacional e planetária.

Horizontalizar as responsabilidades, romper preconceitos, expor as contradições das nossas organizações perdidas no tempo e no espaço e deixar aflorar um novo caminho, sem demagogia, sem a soberba da hierarquia exagerada, sem o romantismo piegas, sem o bacharelismo onipotente. Esses são os pressupostos necessários para a construção desse processo educativo. Como disse, não será uma missão fácil.

O portal é a I Conferência Nacional de Segurança Pública. E os protagonistas, todos que queiram dar um passo nesse histórico momento de percepção da gravidade da crise dos pressupostos que ainda sustentam a segurança pública em nosso país, como foi o caso mais recente em Brasília – DF, onde um policial militar em uma atitude violenta feriu gravemente um cidadão, com um tiro em sua nuca.

A conferência é um portal, para discutirmos vários aspectos da cultura de violência e encontrarmos, juntos, caminhos para a segurança pública. Caminhos capazes de trazer outros resultados para o exercício da atividade policial, que é apenas uma parte dessa cultura de violência.

Todos os envolvidos nessa tragédia são vítimas da cultura de violência. O jovem que recebeu o tiro, sua família, seus amigos, seus vizinhos e o policial que puxou a arma e disparou o tiro que pode ser fatal, essa é apenas a ponta iceberg.

Se punirmos só o policial, estaremos punindo o ato de violência praticado pelo mesmo, se este for punido e o sistema de segurança for analisado de forma sistêmica, aproveitaremos a tragédia para, a partir da DOR, darmos mais um passo para a compreensão da complexidade da cultura de violência que perpassa as instituições policiais de nossa sociedade.

Por isso, o portal da I Conferência de Segurança Pública deve servir não só para tratar das violências, mais também, para abrir nossos horizontes para uma nova relação entre as pessoas, policiais ou não, gestores públicos ou não, pretos ou não, jovens ou não, gays ou não, católicos ou não, mulheres ou não, pobres ou não, índios ou não, etc.


Como disse, não será fácil. Porém, será nobre. Queremos um país desenvolvido e, para tal, precisamos desenvolver os laços de uma cultura que privilegie o diálogo, que sejam sustentados sobre valores éticos de respeito a todas as pessoas e de ações de solidariedade. A essas práticas, chamamos cultura de Paz pela Paz.